sábado, 29 de novembro de 2008

o perdido.

".... e a facas se perdem e os garfos
se perdem pela VIDA caem
pelas FALHAS DO ASSOALHO e vão conviver com ratos
e baratas ou se enferrujam no quintal esquecidos entre os pés de erva-cidreira
e as grossas orelhas de hortelã
QUANTA COISA SE PERDE
nesta VIDA...."
( trecho do poema sujo - Ferreira Gullar)







As coisas boas ou más
se perdem
se ficam, deterioradas
em cantos obscuros
fogem...
enferrugam
explodem
escapam
pelos dias cheios de frestas
pelas noites sem perdão
estardalhaços de coisas
espalhadas ao vento
ao tempo
em tempo.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

E foi “mofado” o princípio do fim.



(para minha irmã e seu amor que me envolve em nuvens)



Querida amiga, a água que tem passado por baixo da ponte tem ficado cada vez mais densa e turva, novos fortes ventos em ondas estranhas tem arrastado para longe das árvores aquelas folhinhas secas que adorávamos observar no “afunda-afunda” sem fim . Aqueles peixinhos amarelinhos, que tanto queríamos para um suposto futuro aquário, ainda continuam a brincar em ziguezague sobre as águas, parecem mais rápidos que antigamente e tiram-me risinhos de canto, quando saltam em cambalhotas. Espirram água por todo lado, os danados! Balançando as pernas no ar, sinto-me como uma menininha. A ponte está mais bonita, precisava ver! Bucólica, com a madeira do corrimão corroída e musgos crescendo deliberadamente. Fico olhando aqui o quanto parece escorregadia, mas, não encontro a mesma ousadia de ir lá e brincar em uma emocionante imaginada pista de patinação. Nossa, iríamos rir um bocado entre um tombo e outro, eu, com meus ataques de riso que não me deixam em pé e você quase fazendo xixi nas calças, ainda tem esta mania, de precisar ir no banheiro quando gargalha?


Ao longe, avisto crianças brincando na água, soltam uns gritinhos engraçados. A água parece mais fria e o rio mais fundo. Fico preocupada por estarem ali sozinhas, só podem estar escondidas dos pais. Mas, acalmo meus pensamentos observando o quanto parecem livres e entregues as brincadeiras.


Fico aqui minutos sem fim. De olhos bem abertos, minutos lá, horas em outro mundo, é quando vem o cheirinho do flamboiã e me traz de volta ao mesmo lugar, mas, em outras épocas. Uma grande saudade de tudo aperta o peito. Um susto melancólico que diz que as mudanças aconteceram rápido demais, tão rápidas que a diferença das sensações parecem apenas sombras impressas em fotografias instantâneas.





(pausa para escutar como trilha sonora: With a Little - Joe Cocker)




Respiro profundamente. Já fazia uns meses que não respirava. Tempos difíceis, amiga, complicados para pessoas que ousaram sonhar com o que nos permitimos. Enquanto corríamos por aqui e entre estas árvores, nada parecia impossível. E a noite, no gramado, a via láctea em estrelas parecia tão próxima e a luz que iluminava tinha mais força e vitalidade em nossas vidas. Agora, que volto a respirar, me pergunto, em que momento da vida passei a querer tão pouco de tudo e dar de mim o mínimo fantasiado de esforço.


O ar por um instante torna-se rarefeito e a imagem do seu rosto, ainda criança, sorrindo, me vem a frente, você me entende a mão, me chama para brincar, ri do meu agora pouco cabelo espetado engraçado, comenta do pó-de-arroz que devia usar nas minhas olheiras, de como ficaria parecida com uma boneca de porcelana. “ Vem bicuda”!!!! Toda engraçadinha! “Vem”. Abaixo e balanço a cabeça, achando não poder ser mais possível, permitir a sua presença infantil. “Vem!” E o ar volta em abundância, escuto seu barulho em forma de brisa macia nas árvores desassossegadas, me encho de sentimentos que retornam e com pulmões inflados de uma liberdade regressa, seguro firme na sua mão, imprimo seu sorriso no meu rosto e assim, junto a você, deslizo sobre o gramado correndo em saltos de um lado para outro procurando, amiga, em que pote escondemos aquela velha e melancólica felicidade.


terça-feira, 18 de novembro de 2008

sobre o amor

amor
apaixonadamente, digo, amor
seu nome, intenso, amor
entre um e outro
amor


segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Absinto

Absinto-me
Nas ruas da lisboeta
Corria louca e gritava
pelos becos te espeitava
nos muros me esmagava
Ab e sinto ainda
O barulho dos meus lábios
Caminhando para o proibido
Madrugada verde
Efervescente
Sinto ainda….


(o bebedor de absinto - picasso)

domingo, 16 de novembro de 2008

Clichês de desenho animado

Tenho toda a sensação estranha se estar suspensa e ver abaixo um grande penhasco ou um precipício. Mas, não consigo pensar esta imagem em um filme de terror ou suspense, mas, somente em um desenho animado destes que o bicho está agarrado em um galho fino de uma árvore e olha em baixo com aqueles olhos que saltam para fora. E se cair? É engraçado quando caem e tudo que se escuta é aquele: "ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh" que vai se distanciando e termina simplesmente com um "pof" e sai aquela fumacinha engraçada. E o bichinho está com o cérebro espalhado pelo chão??? Não!!!!! O bichinho está vivo apesar da queda, pode estar fino como uma folha de papel, pode ter passarinhos na cabeça, pode estar achatado ou dentro de um buraco que ele próprio criou. Mas, o bichinho está vivo, quando esta apavorado olhando para baixo ou quando esta caído no fundo do fundo das profundezas do precipício, ele está vivo!!!!! O meu galho é mágico me envolve com suas forças da natureza e eu, sei que sou apenas um bichinho do desenho animado!
Renata Santos (impermeável)

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

No meu tempo, em tempo.

Queria muito nos meus 19 anos, em 69, estar em Woodstock,dançando livremente sob o som alucinante guitarra de Hendrix, aos 20 ter ouvido ao vivo os Beatles, aos 17, Elvis, no auge da histeria coletiva. Acompanhado no sonho dos cinemas James Dean, Marlon Brando, Paul Newman. Vivido em New Orleans e em bares esfumaçados escondidos ver negros esfuziantes deslizar suas mãos, bocas e corpos em gaitas, baixos e em duelos de guitarras, soltando no ar proibidos e escandalosos blues genuínos. Ter vaiado o “Br-3” de Tony Tornado e o Sabia de Chico Buarque nos festivais.
Aí, santo deus, viver na boemia, em Copacabana anos 50/60, vida dourada em encontros criativos, regados a Whisky, dos poetas, cantores e escritores da época. Visto um show dos Secos e Molhados e ter participado da semana de 22, enxovalhando os parnasianos catatônicos filhos da mãe. Com Chiquinha Gonzaga freqüentado saraus em casarões antigos e os bailes de carnaval de antigamente.Queria ter queimado sutiãs, ter participado da coluna prestes, gritado por liberdade, por paz e amor, por igualdade, ter fugido de casa, ter chorado quando Lenon disse “o sonho acabou”.
Ter vivido no Rio, na França, em Nova York, em Sampa, em Madrid. Ter sido companheira de Darcy Ribeiro, de Pablo Neruda , de Frida Kalo, Glauber Rocha, de mestre Antonio Vieira, de Picasso, Fernando Gabeira, de Salvador dali, de Clarice Lispector, Fernando Pessoa, de Gabriel Garcia Márquez, de che Guevara, Reich, de Etta James. Ter estudado história da arte, filosofia, arqueologia, sociologia.Coube a minha formação passar o ridículo de ter sido cara pintada, ter assistido Xuxa e usado calça bag e ainda por cima ver transformado em pop-lixo ritmos populares regionais.
Nestes termos, venho debulhando meus dias entre realidade, utopia e ficção, e sem resistência, assumindo minha triste face neoliberal consumista, vendo a vida passar na janela da minha magnética “Itabira” e só não grito para o mundo ouvir que a “vida é besta”, porque não perdia um capítulo sequer da séria anjos da lei, onde Johnny Depp dava os primeiros ares da sua mágica graça. Bons tempos aqueles!
E viva “Pepe le gamba” ele é que é feliz!!!!!

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Manuel de Barros

Ando em uma fase totalmente Manuel de Barros......... amando e devorando cada verso da sua poesia.................
E preciso deixar um pedaço dele aqui.... que sirva de inspiraçao para todos!!!!


Toda vez que encontro uma parede
ela me entrega às suas lesmas.
Não sei se isso é uma repetição de mim ou das lesmas.
Não sei se isso é uma repetição das paredes ou de mim.
Estarei incluído nas lesmas ou nas paredes?
Parece que lesma só é uma divulgação de mim.
Penso que dentro de minha casca
não tem um bicho:Tem um silêncio feroz.
Estico a timidez da minha lesma até gozar na pedra

domingo, 9 de novembro de 2008

na quinta-feira

Trilha sonora para uma quinta-feira........ a que ficou no passado...


Diz que deu, diz que Deus, diz que Deus dará,

Não vou duvidar,

ô nega
e se Deus não dá,

como é que vai ficar,


ô nega?
Diz que deu, diz que , e se Deus negar,

ô nega
Eu vou me indignar e chega,

Deus dará, deus dará!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!



(Partido Alto - Chico buarque)

terça-feira, 4 de novembro de 2008

o desafio

Respirou fundo novamente antes de aceitar aquele convite insistente que ele havia feito, entregar-se aquela nova e sempre espreitada sensação, não era para ela o melhor para uma manhã de quarta-feira, mas, se sentiu desafiada. Há dias vinha se consumindo em uma rotina categoricamente fria,de sentimentos regrados e racionalmente controlados.Já não sabia onde vinha a força para manter-se com sintomas de medos e decaídas distantes. Mesmo antes de tudo acontecer já não sabia ser capaz de viver sem a transgressão de sentimentos, de regras e atos que somente serviam para formar uma imagem firme de quem era perante as pessoas que convivia na sua vila. Enquanto olhava a distância, a profundidade, lembrou-se da velha que morava da última rua a direita da vila, a maneira como foi encontrada quatro dias depois da sua morte: na cadeira , dura, imóvel e morta. Sorriu constrita. Sentiu pena da velhinha, sempre tão amável com todos, nunca indelicada.E aquele seu sorriso mediano? Os lábios que invariavelmente faziam o mesmo desenho no rosto, uma linha reta com as duas covinhas profundas, metade dos dentes anteriores aparecendo do sempre mesmo sorriso para sempre a mesma delicadeza e impavidez. Enquanto ele de costas arrumava os equipamentos, ela, ainda com a velhinha morta por quatro dias em casa, na cabeça, lembrou-se do dia em que a sorveteira do centro da vila queimou em brasas. Todos correndo, histeria, agua para baixo, chamas para cima e enquanto ela estava absorta na maravilha da ajuda comunitária, viu a velhinha ao longe com aquele mesmo sorriso mediano no rosto, nem a mais, nem a menos. Achou aqueles pensamentos impróprios para o momento e querendo se desfazer de qualquer resquício fúnebre, fixou os olhos nos braços que puxavam as cordas para cima. A sensação de força que ele passava lhe dava uma segurança inquestionável, algo primitivo e distante dos tempos modernos, mas, se achava engraçada imaginando ele a protegendo contra um grande animal feroz ou a salvando de uma torre cheia de fogo. Sorriu sozinha. Ele subitamente virou-se e agora sim viu a força dos seus braços segurando um monte de roldanas, cordas, coletes e não sabia mais o que e para quê tudo aquilo! O suor escorria pelos seus ombros enormes e nos olhos de menino vivaz e peralta via a vibração, a necessidade intensa de vida que a fazia querer a urgência do momento. Pronta? Foi o que ouviu da sua boca, esboçando um sorriso maroto. Sentiu o frio na barriga e já não sabia se era a iminência do desafio a seguir ou a excitação que ele despertava. Sorriu desconfiada. Pronta, foi o que respondeu. Levantou-se e do alto viu tudo até quase o infinito, os tons de verde a ocre, a natureza cintilando a sua frente com uma brisa desnuda e suave. A imensa altura e abaixo as águas ávidas e passionais que a esperavam. Agarrou-se e se acomodou na segurança que ele a ofereceu e ali aconchegada com o coração ao pulos, o sangue pulsando sobre a maestria da adrenalina saltou livre. Ela e ele. Segundos avassaladores. Sorria louca. O vento. O nada. E pronto estava sentindo em sua pele quente a água deliciosa e acolhedora, mergulhou ainda agarrada a ele e naquele instante era tudo o que sentia: ele e a vencedora capacidade se superar, de arriscar, de transgredir. Submergiu aos gritos, aos prantos, se olharam demoradamente e se beijaram em entrega . Sorriram, mergulharam juntos e continuaram urgentes e intensos pelo momento que parecia ser o sem fim do infinito.
Renata Santos (impermeável)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

tilintar

Eu quero tilintar e assim dispertar todas as sensações que a vida pode me dar
Encontrar o tesouro mais vivaz do mundo....
Não quero a metade ou os meus 78%
Que o tudo que não dê para carregar com minhas mãos
e o que cheio venha transbordando
Quero transbordar
Acordar com os olhos já vivos para cada detalhe do que vier a seguir
atenta, deixar contaminar com os vermes que provocam inquietute e vibraçao
vibrar
tremores, espasmos de eletrecidade de vibração pela vida
vejo a corrente, a festa, a entrega, sinto no momento seguinte....
a comemoraçao férrea e ardente
ofegante
explodo!
um sorriso no rosto, palpitante
revivo vibrante vivaz transbordante!



Renata Santos (impermeável)

domingo, 2 de novembro de 2008

maquina do mundo

a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia

Carlos Drummond de Andrade

sábado, 1 de novembro de 2008

Baton



Fazia frio aquela manhâ, resolveu colocar ao pescoço seu lenço preto para proteger do frio cortante, era tambem um adorno como tantos outros, de tantas outras cores, texturas e tamanhos em seu tumultuado armário. Escolheu o preto, que vinha acompanhado com um cheiro que ela conhecia, deu um sorriso de canto e deixou escapar o verdadeiro motivo de gostar tanto dos lenços....O cheiro que eles roubam do pescoço...Olhou-se no espelho, sempre atenta a detalhes vaidosos, completou o visual com um alegre carmim nos lábios, não era usual aquele tom em sua agitada rotina, mas, queria se sentir diferente naquele dia, compor um personagem como fulga dos dias cheios de angústia de estava vivendo. Logo ouviu o roncar da sua gata correndo ao seu encontro, não havia tempo para cafunes na cabeça! Abriu a porta, e um sorriso harmonioso enfeitou seu rosto. O vento abriu caminho para um novo dia e expectativas rivigoradas borbulhavam em seus pensamentos, afinal, novos dias, novas possibilidades!



Renata Santos ( impermeável)