sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

vagando.




pairava sobre ti a fumaça
a mesma sombra branca
que me empedia te ver seu rosto
enquanto me dizia nada
e concordava com tudo

a nevoa branca escorria
sob meu rosto lágrimas
aguardavam palavras
que nao vieram


a neblina te encobria
completamente disperso
te afasta

perdida no seu nevoeiro
aceito
contrita, a perda.


ja nao te vejo

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

escapando...



Na passagem do mar sobre a areia, a marca da água o fez esquecer do embaralhado confuso de sentimentos difíceis. Ficou olhando para ondas que o mar havia imprimido na areia e se sentiu livre das pequenas complicações cotidianas que o fizeram por dias querer estar sozinho.


Foi assim: assistia televisão no quarto branco e olhou para o quadro com motivo branco e azul e achou que era hora de sentir o vento do mar. Colocou na mochila 2 bermudas, 3 camisetas, chinelos, escova de dente, desodorante, carteira e foi! Assim. Sem rumo. Andou pela cidade, pensou na praia mais perto enquanto tomava um café forte em um bar de esquina e foi! Andou a pé, de carro, de avião, de ônibus, sem pressa, com pressa, perdeu noção da vida, das horas, dos lugares, dos sentimentos, das pessoas…


No primeiro dia, ao ver o mar, ficou imóvel por segundos, ou minutos, ou horas, ou dias, não conseguiria quantificar! Sentiu o cheiro, a brisa, o barulho de longe e de perto o mar se apresentou escancarado. Não se lembrou dos tantos momentos passados de intimidade com aquela imensidão de água que achava que tinha controle. Não. A melancolia da felicidade do passado, não se manifestou. Era como estivesse sendo apresentado ao mar pela primeira vez…e na mesma posição, talvez tendo as estrelas ou o sol sobre a cabeça dormiu e acordou. A areia, o sal, a sede, nada o incomodou!


Estava ali, onde queria estar por meses, distante de tudo, de todos e dele mesmo. Era completamente a ausência de tudo, era nada e o mar.


E sentiu saudades. ….

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

amanha.

Serei as coisas mais ordinárias e humanas
Também as excepcionais
Tudo depende da hora
E de certa inclinação feérica
Rica em mim qual um inseto.
Carlos Drummond de Andrade.



Enquanto guardava meu colar de pérolas em minha caixa de jóias, lembrava entre sorrisos o choro falso que tive que encenar quando meus queridos colegas de trabalho me presentearam com uma festa surpresa de aniversário, parecia um verdadeiro inferno quando cantavam em coro: “SURPRESA”. Queria ter criado asas e voar para bem distante e como encomenda especial soltar um destes “cocos passariniamos” que vem do céu dos olhos dos desavisados.
É , até que capricharam nos presentinhos sem personalidade e o pico da noite foi ter que abrir o presente da minha estagiária patética e sem brilho, um destes pijamas de flanela que só de olhar me queima de calor.
Sorri, “obrigada, flor, é lindo”!
Suportei ainda as piadas ridículas do “esperto” do departamento de finanças e a troca de olhares libidinosas entre a garota do setor de compras casada e de caráter duvidoso e o garoto de lindos olhos do almoxarifado.
Sei que ele gostam de mim.
Sempre me pouso de cordial, amável e inofensiva com todos e eles, tendo confiança, destilam seus venenos e seus segredos nos meus ouvidos, um contra o outro, é quase um esporte ouvir, aconselhar e manipular. Em dias mais animados e que tenho tempo faço intrigas entre eles e me delicio em ver as briguinhas patéticas e choros dos fracos escondidos nos cantos. No exercício da manipulação, me surpreendo pessoas ainda assim tão medíocres e de massa, possam vibrar tão negativamente no mundo.
Bem, é hora para pensamentos filosóficos ou “freudexplicatianos”. Deitada em minha banheira de espuma, saboriando um porto encorpado e escutando RAy Charles todos meus pensamentos voltam para o dia de amanhã. Encontrarei minha querida amiga que a anos não vejo, mesmo distantes, sempre dividimos nossas vidas, nossos problemas e medos. Sempre explodo em amizade e carinho a ela.
E que pulo no coração ao lembrar que ele estará também no encontro, disse-me agora pouco que tem uma surpresa e que a surpresa não é de pegar ou guardar. Estou ansiosa, ele sempre me surpreende, me embala de amor e aqui, deitada, pensando em tanto amor que recebo só penso em ser e dar o que existe de melhor para o dia de amanhã, amanhã sim, a comemoração do meu aniversário.
Como o força do amargo do vinho é bom!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

o olhar do amor.

Quando me olha e brilha de olhar

Vem um aperto de amar

Esqueço do resto

Aceito

Brilho


video: Ceumar canta "SEU OLHAR", de Arnaldo Antunes e Paulo Tatit.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

princesa e dragões.




















Em certa parte do caminho, Justine parou. Não sabia se voltava para trás ou se continuava adiante. Só parou. Sentou no meio fio e com um gaveto a mão desenhou no chão arenoso na rua de terra arabescos sem significado. O sol escaldante queimava suas costas branquelas a mostra, mas, não se importava, não sentia o calor do meio-dia.

Justine tinha dúvidas.

Ao longe avistava os muros do castelo onde teria “pompas e circunstâncias” dentro de muros enormes e por todo lado, imagens de casinhas brancas com portas e janelas abertas soltando cheiros de uva curtida e broa saindo do forno, atordoavam sua visão.
Olhou somente para o chão onde rabiscava com força o desenho ilustrativo de uma história qualquer , somente sentia seu coração bater compassadamente.

Justine tinha dúvidas.
imagem: cidade medieval Óbidos, Portugal

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

de ti

O homem e a morte

Pensava em ti com terror...
És mesmo a Morte?
Ele insiste.
- Sim, torna o Anjo,
a Morte sou,
Mestra que jamais engana,
A tua amiga melhor.
E o Anjo foi-se aproximando,
A fronte do homem tocou,
Com infinita doçura
As magras mãos lhe cerrou..
.Era o carinho inefável
De quem ao peito o criou.
Era a doçura da amada
Que amara com mais amor.
Manuel Bandeira.




é branco seu medo
seu desespero te suga
cheira
inspira
voa

é translúcida minha alma
minha impotência me enlouquece
falo
suspiro
calo

domingo, 30 de agosto de 2009

no final, fumaça.



às vezes meu coração incendeia


queimo inteira.

domingo, 23 de agosto de 2009

...



Vi nos olhos do passado
A melancolia distante
Debruçada nos meus consolos

Chorei

Lágrimas escorrerão sobre desesperanças
Já não existe tempo

Chorei

Futuro preso a sombra da dor e morte
Prostrei sozinha e em silêncio

Chorei

Vitimada pela vida escorrida
Sugada em preocupações

Chorei

.
.
.

Choro.



créditos da imagem: http://blackandwhiteart.blogspot.com/

terça-feira, 18 de agosto de 2009

FEMINISMO

Estou indo.
Você ficando, não esqueça:

dê comida ao cachoro
recolha roupa do varal
leve lixo para a rua
troque a água do aquário
regue as plantas

E se eu nao voltar

Me esqueça!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Lola e Brigitta.



PARTE I

(dispertando...)


Lola saiu correndo pelas ruas estreitas e antigas da cidade. Ao sair da escola, afoita, deixou pelo portão enferrujado um pedaço da fita vermelha que sempre levava a cabeça em dois rabos-de-cavalo compridos e loiros que sua mãe fazia todas as manhãs sob o sono insistente da manhã.

Brigitta abriu os imensos olhos negros assustada. Havia esquecido que estava em uma nova casa, em uma nova cidade. Pulou da cama e o espelho logo a frente, lhe mostrou uma menina com cabelos acobreados em um emaranhado de cachos displicentes caídos sobre um pijama com gola esgarçada e gasta. Brigitta, adorava a imagem que via a frente e só depois de longos minutos admirando cada parte do seu reflexo é que pensou nas novidades que estariam por vir nesta nova fase da sua vida.

Cuidado menina, você vai se machucar! Lola escutou ao longe o conselho de algum vizinho que não estava acostumado com a maneira espevitada que desfilava nas vizinhanças. Sempre tinha algum, que em conversas com sua mãe, delatava suas atitudes nas redondezas. Sua mãe, então, usava palavras duras, mas, Lola, observava nos seus olhos o riso contido e a noite quando o pai chegava e ela já estava na cama, ia pé-ante-pé escutar pelas frestas da casa as gargalhadas dos dois depois que sua mãe encenava ao pai suas traquinices e justificativas para tudo que acontecia. Lola, sempre tinha boas justificativas . Era boa em inventar porquês para tudo que acontecia a sua volta, isto fazia com que Lola vivesse em um mundo próprio em que cada coisa ou fato fosse inventado com o objetivo de estar a conspiração da sua vida.

Desça para o café, menina! Fez com que Brigitta despertasse do transe interno. Ela era assim. Conseguia por longos minutos se apagar do mundo e adentrar como em uma viagem insólita para seu pensamento e ali se satisfazer em um mundo capaz de transforma-la em uma princesa rodopiando em lindos jardins floridos de vermelho até ser ela, Brigitta, um bebezinho recebendo da mãe carinhos, mimos e afeto. Isto fazia se Brigitta uma menina calada, observadora, misteriosa, com olhos expressivos e faiscantes que pareciam querer saltar para a vida externa.

Quando a mãe de Lola a chamou para ver através da janela os novos vizinhos, ela disse que não poderia que estava "alimentando com brioches seus esquilos”, a mãe, riu. Mas, quando Lola ouviu um som estranho de música vindo de fora, pulou instintivamente da cama e junto com a mãe viu um homem forte e de chapéu tocando uma espécie de flauta de madeira que soltava um som fino e singelo. A mãe observava a mobília diferente de tudo que já tinha visto com tapetes coloridos e estofados com flores sóbrias mas, Lola, não conseguia tirar os olhos da menina com olhos negros que sentada no sofá colocado no jardim, ria em gargalhada do pai que ensaiava passos de dança desajeitados, tudo ali, no meio do jardim.

Brigitta estava penteando os longos cabelos da sua boneca preferida quando a mãe a chamou para uma conversa. Como sempre, a mãe, evitava fitar seus olhos, e contou de maneira fria e rápida a mudança para uma cidade distante. Imediatamente, Brigitta sentiu os olhos embaçarem, a mãe desviou o olhar, respirou em descontentamento virou o pescoço em um giro pelo quarto e com toda aspereza que lhe era comum, disse o quanto Brigitta vivia no mundo da lua no meio de coisas que estavam sempre em desordem e a fuzilou com um olhar de indiferença que Brigitta já conhecia. Continuou, ali, paralisada, pensando em como gostava de subir nas copas das árvores do quintal enorme da sua casa, em como a fazia viajar a música vinda do conservatório a frente, em como se sentia orgulhosa por ser pai ser um professor adorado na escola onde estudava e por fim, em como sobreviveria sem o afago a cabeça da avó todos os dias em visitas silenciosas e doces. Não sobreviveria. Estava apagada para este mundo.

Ao chegar em casa, ofegante, Lola, bombardeou a mãe com perguntas sobre os novos vizinhos, a mãe, lhe deu logo um sermão sobre ser indiscreta. Lola não ouviu nada, entrou no seu quarto, soltou os cabelos e passando pela cozinha, escondida da mãe, pegou uns 3 ou 4 dos biscoitos de leite que sua mãe acabara de tirar do forno e saiu em disparada, saltou pelas escadas da frente da casa e arrumou o passo ao chegar na frente da casa ao lado, se recompôs e colocou no rosto a cara de menina meiga e simpática ensaiada e encenada em momentos especiais por Lola.

Vizinhos! Uma voz fina, a tirou de um envolvimento em transe com sua nova caneta de pena que pai havia comprado para seu primeiro dia de aula. Vizinhos! Correu aflita pela casa e abriu a pesada porta de madeira com dificuldade.

Ventava muito, em um final de tarde com azuis e laranjas que se misturavam no horizonte.Os altos arbustos do outro lado da rua soltavam uns gritinhos de contentamento quando a porta se abriu.

A menina que segurava a saia xadrez para o vento não levar, deixou sua cara ensaiada de simpatia escorrer de fascinaçao!

A menina que cerrava os olhos para evitar a poeira do vento, os viu quase saltar para fora de encantamento!

Assim, Lola e Brigitta se viram pela primeira vez. Assim, começou a amizade das meninas.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Vou de coletivo - uma carta de amor.

Curitiba, 5 de agosto de 2009





Quando leu ao telefone o que escreveu eu sua carta, quase não pude suportar sentada, parada e distante de ti.
Quando li ao telefone a carta de amor que te respondi, quase não pude falar, fiquei ali repetindo, repetindo o fim, que disse como se sentia.
Fez-me perguntas quando não poderia responder atónica de desejo e paixão. Agora te digo:
Sim, é uma loucura inesquecível
Sim, vou contar sobre você aos meus netos.
Sim, quero que conte sobre mim aos seus netos. Mas, se para isto depender o nosso fim, não, eles não precisam ficar sabendo.
Sim, seriam lembranças maravilhosas, mas, melancólicas demais
Não, não estou triste, melancolia faz umas côcegas gostosinhas.
Sim, vai dar conta de tudo por algum tempo.
Não, o presente é hoje. Do futuro não preciso saber.
Sim, eu também .
Vou precisar ler em voz alta esta também?

Beijos,
para o antes, durante e depois da sua descrição de amor.







Este texto faz parte da blogagem coletiva "vou de coletivo"

o tema deste mês é: carta de amor
http://voudecoletivo.blogspot.com/2009/07/uma-carta-de-amor.html

terça-feira, 28 de julho de 2009

SOBRE O MESMO TETO.


Enquanto lavava a louça do jantar distraída, o cabelo desajeitado, o avental molhado amarrado, marcando despretensiosamente a cintura fina, marido e filho da sala assistindo a barulhenta tv, lembrou novamente daquela frase...
O imenso gelo no estômago.
O CALOR na face.
A rotina dos últimos dias
A adrenalina do desejo proibido


Soltou o avental sobre a mesa e TRANCOU-SE sôfrega no banheiro. Aquelas palavras ditas ao seu ouvido....
Penteou os cabelos
Olhou seus olhos ACESOS
Boca semiaberta recebendo um baton vermelho carmim

E as palavras vindo da boca do estranho ecoavam em TODA circulação sanguínea:
- Penso em você da maneira MAIS voluptuosa possível!
Foto: cena do filme das Pontes de Madison.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Tertulia Virtual - julho - Tema Livre

Impotência.




( Para Otávio , que um dia esta parede de vidro entre nós se quebre...)



Parou a margem do lago. Era uma manhã calma e limpa. Nuvens salpicavam um céu azul de inverno e o frio contrastava com o calor do corpo, depois de uma intensa caminhada pela mata.

Sentou ali. Respirava profundamente e a paz do seu interior inundava tudo a volta. Depois de longos minutos em silêncio ouviu um barulho no meio do lago. Arqueou o corpo a frente e não conseguia ver nada. Mas, o forte barulho agonizante continuava. Levantou e com as pontas do pé viu um pequeno animal se debatendo bem ao longe, no meio do lago. Jogava água por todos os lados, se debatia e soltava um grunido de desespero....

Ali observando, como expectadora se sentiu aflita! Ele estava tão distante da margem, olhava aos lados para ver se avistava um barco, alguém que pudesse ir até lá e a ela, com o medo da água, sem saber nadar... Somente lhe restava gritar, um incentivo pífio e chorar...

Aos poucos, o movimento do animal foi ficando mais derradeiro e ouvia-se muito fraco o som desesperador de luta contra o afogamento. A cada falta de sinal, ela, chorava e gritava o terrível sentimento de impotência frente o sofrimento do animal.

Então, após longos segundos de silêncio e de desistência de sua parte, um bater forte de asas fez com que sua respiração sumisse em esperança e do lago, inteiramente molhado e com uma das asas comprometidas, um pássaro enorme alçou vôo, jogando respingos de água por todo o lado.

Ela, somente observou, o vôo vitorioso do pássaro, rindo de lágrimas e sentindo sobre a pele os respingos frios vindo dele voando sobre ela em agradecimento a sua cumplicidade perante a vilania da água...

terça-feira, 14 de julho de 2009

tértulia virtual....

Amanhã será minha primeira vez nos dias 15 do Tértulia Virtual ( http://tervirtual.blogspot.com/) .....
Achei o blog nestes passeios blogueanos e achei a idéia interessante!
Aí está o link para quem se interessar.


Bem, é necessário se inscrever até o dia 14. Inscrição feita e este mês o tema é livre....


Então, até amanhã!

sexta-feira, 10 de julho de 2009

DESPEDIDA



Encostou o rosto sobre seu peito, os olhos em lágrimas e com som da sua boca chorosa preso no corpo do outro perguntou:


- Posso chorar um pouquinho, um pouquinho só?


Bruscamente, o outro, puxou seu rosto, com as duas mãos, pelos cabelos e olhando firmemente nos seus olhos, disse com os dentes cerrados:


- Não! Nem um pouquinho!


Ficou atónica e pronta para sentir mil saudades.
imagem: o beijo, Klint.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Necrológio dos desiludidos do amor

Os desiludidos do amores
tão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.

Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas os veremos
seja no claro céu ou no turvo inferno.
Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia...
Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados completamente
(paixões de primeira e de segunda classe).

Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.
Carlos Drummond de Andrade.


Inspirado e suspirado no Necrológio dos desiludidos: Bilhete de adeus
.



((Adoraria ouvir com você, Janis Joplis cantar Summertime,
neste momento.
Amenizaria minha dor ou a
dividiria com você a melancolia dos últimos suspiros do fim))

Sentada daqui da onde estou, te vejo dormindo. Não posso dizer a você que tens a serenidade de um anjo no repouso do sono divinal. Não. Tens a força e a virilidade de um deus pagão do Olimpo. Não posso te dizer que, apesar da calma do infinito céu azul de Outono do dia que amanhece, foi na minha vida uma “brisa suave”, definição para romances de “princepesas” . Não. Foi um destes furações com nomes de mulheres que destruíram cidades de acordes de blues americanos. Foi assim. Envolveu-me no seu centro. Destruiçao total, aviso de calamidade pública! Desmontou-me e na reconstrução fez-me outra e enquanto dormi, na paz de mais um noite inesquecível de amor, digo adeus. Prometo não olhar para traz. Tudo que te disse é verdade: te amo. Mas, devo olhar a frente.

Queime e esqueça depois de ler!

sexta-feira, 5 de junho de 2009

des-rimando.
























Do encontro fugaz
Te fiz uma rima

Daquelas rasas
Sem asas:
Travesseiros
Ordeiros


E com o dedo em riste:
Meu bem
Vai pró além!


Não sou mulher de rimas!


Bato descompassadamente
A vida me pulsa descontrolavel…

Não existe mente
Existem devaneios...

quarta-feira, 6 de maio de 2009

transformação


sólida pequenez humana

sublimação

gotas

sublimar


ar


su bli me

terça-feira, 21 de abril de 2009

A "la doce vita" I

ELE.


Pela imagem rápida do carro em movimento viu novamente a imagem DELA perto de uma fonte próxima do restaurante que acabara de almoçar, eram relances de imaginação e realidade que estavam se misturando desde que chegou a cidade, o lugar onde sonhara visitar com ELA. Fechou seus olhos e se lembrou DELA nua nos lençóis com seus gestos teatrais dizendo entre risos e devaneios, a sua vontade utópica de viajar pelo mundo fotografando fontes e chafarizes. Impossível naquele instante não se imaginar sempre de mãos dadas com ELA nas ruas de Roma, andando pelas praças e ruelas, escutando seu riso e sua cara de contentamento pelas novas imagens da vida…e ainda quando ELA o deixou sem fôlego com um beijo quente apertando seu corpo nu contra o dele, ele a quis nas ruelas escuras entre um e outra parede em obscuros desejos pelas madrugadas romanas.

Abriu seus olhos e voltou-se para dentro do carro… Quando Elizabethe no meio de toda tribulação disse que queria ir para Europa, não teve tempo ou paciência para escolher o roteiro, aceitou tudo e enquanto ela descrevia as maravilhas que queria ver e rever, não a escutava em nenhuma palavra, estava preocupado com as dificuldades financeiras para manter os negócios . Aliás, se deu conta que a meses não escutava Elizabethe. Olhou para ela ao seu lado no carro e se deu conta que a meses não via Elizabethe. Nesta olhada em relance reviu seu rosto fino e seu mexer de boca em palavras repetitivas e sem energia, suas roupas, que cobriam uma pele amarelada sem viço, rodeavam sempre o mesmo estilo, com calças bem cortadas de cores escuras e blusas em tons pastéis. Ficou entediado, olhar para qualquer coisa de Elizabethe, podia dizer que a anos, o deixava entediado, ela era uma mulher elegante, bem articulada, uma boa amiga e companheira para eventos em família e sociais, mas, a tempos não sentia desejo ou vibração por ela. Repetia em sua cabeça o quanto Elizabethe o entediava.


Fechou demoradamente seus olhos e a imagem DELA na primeira vez que a viu, veio a mente, seus olhos que se desviam dele, sua boca que soltava palavras agradáveis que prenderam seu interesse, sua mistura interessante de menina e fêmea…. A desejou naquele primeiro instante, quis saboreá-la durante dias sob conquistas em jogos de palavras livres, sem sublinharidades ou atos presos em dúvidas de entrega.

Abriu os olhos, ainda estava no mesmo carro, agora parado em um sinal fechado e sentiu o perfume adocicado de Elizabethe

Fechou-os novamente, e estava nos braços DELA em uma paixão que seguiu um ritmo
livre em meses intensos o que o fizeram sentir a vida pulsar de uma maneira nova, renovando suas expectativas, seu corpo, seus pensamentos e seu ânimo de viver.

Abriu seus olhos e respondeu mecanicamente as perguntas de Elizabethe.

Fechou os olhos, e sentia o calor acolhedor da alegria DELA em noites que sempre começavam com longas conversas sobre suas vidas, seus cotidianos, suas visões de futuro, seus sentimentos e madrugadas que se seguiam em beijos longos libidinosos e entrega perfeita de corpos em brasa em sintonia profética perfeita!

Abriu os olhos, e viu suas mãos sob as pernas e as mãos de Elizabethe que gesticulavam sem parar em palavras que pareciam sempre ser sempre as mesmas

Fechou os olhos, e sorriu para ELA ao lembrar de como era doce e intensa as longas ausências um do outro curtidas em conversas cheias de volúpia e imaginações loucas que o fazia desejá-la urgente em quaisquer circunstancia.

Abriu seus olhos, e ouviu Elizabethe perguntando sobre a maison de um famoso estilista italiano e como, por meses a fio, teve que dar explicações sem fim sobre sua súbita ausência momentânea.

De olhos abertos, A viu andando altiva e esvoaçante na rua com a mesma roupa preta colante e fina de um dos primeiros encontros, cabelos loiros enrolados ao vento e por um encontro de olhares que resultou em um sorriso acolhedor e faiscante, misturou presente e passado, imaginação e realidade…


Pare o carro, ordenou.



Com a mesma calma e racionalidade que nunca, sob hipótese nenhuma o abandonava, explicou a Elizabethe a vontade de andar pelas ruas e depois de fechar seus olhos e sentir a flor da pele sua vida, os abriu, e deu um basta, dizendo que a encontraria no hotel.

Viu-se livre e perto de suas lembranças.

ELA estava por todo lugar, viu sua imagem e ouvia suas palavras e risadas em cada momento, se sentia enlouquecido pela dor e frustração que estas lembranças lhe causavam. Os sentimentos deliciosos que os meses com ELA na sua vida pareciam tão distantes…Não os vira perdendo. Não pressentiu o tempo passando. Não percebeu que estava deixando seu desejo por ELA sem prioridade em nome de um cotidiano de compromissos e pressões que vinham por todas as direções. Ele, a observou sair da sua vida com tanta calma e resignação, que não possível despedidas ou lamentos, simplesmente ELA saiu de cena. Agora, que ao acalmar da vida, longe de tudo e sozinho com Elizabethe percebeu todos os sinais que ELA lhe dera, seus olhares decepção em cada explicação para não alongarem encontros, para cada possíveis encontros não realizados, para cada conversa rápida sem atenção. ELA foi se retirando, foi deixando rastos com dignidade e segurança. Não chorou, não esperneou, apenas o alertou sobre a possível perda um do outro. A perdeu sem perceber, sem querer…


Racionalmente, como sempre em todas as suas decisões, tomou um uísque em algo parecido com um pub, se acalmou.
Na primeira dose, com a melodia de uma música de Madeleine Peyroux na cabeça, pensou em ligar para ela. Na segunda, se sentiu acolhido pela vida. Decidiu que fecharia seus olhos somente ao dormir no quarto de hotel ao lado do tédio cômodo de Elizabethe. Usando a mesma razão a fez longe dele, a afastou dos seus pensamentos , abriu os olhos para o ritmo incontrolável dos sentimentos na ordem burocrática que involuntariamente, escolheu para os anos que viriam….

segunda-feira, 13 de abril de 2009

o beijo que te darei.







... no barulho surdo do tempo
sinto seu olhar me tocando
transfiguro sob sua mira
escorro e desfaleço em mil
(tons de verde)
arrepio na pele contraída
mil, ruídos em suspiros
voo livre até sua voz
imaginaçao,
em dez litros de verso
um poema que fiz para ti
dar
amor
.
.
.
.
.
sua.

2. Gustave Klimt, O beijo.

terça-feira, 24 de março de 2009

Manolo Blahnik

Maria Luisa é uma mulher incrível. Inteligente, culta e bem articulada, atrai olhares de todos por onde passa. Seu porte físico esguio e elegante ganha ares de uma sensualidade natural em gestos, charme e um despojamento autêntico. Nascida em berço de ouro e acostumada com lençóis de algodão egípcio, foi educada nos melhores colégios, leu os grandes clássicos, visitou os museus mais significativos, foi a shows e teatros de artistas incontestáveis, frequentou desde pequena os melhores lugares, nas melhores viagens pelo mundo. E quando resolveu saber mais da vida foi morar sozinha na Europa. Estudou e trabalhou no que quis, se entregou a grandes paixões e a amores mansos. Foi amada, amou, desamou, teve decepções amorosas sempre curadas em banhos de espuma e taças de vinho francês. Quando decidiu por responsabilidade, criou uma grife de roupas que logo ficou famosa. Casou com um grande amor e desde que o casamento havia acabado, morava em uma casa maravilhosa, distante do grande centro da cidade. Em sua sala espaçosa com confortáveis sofás e paredes imensas de vidro, Maria Luisa, recebia, em festas e reuniões super concorridas, intelectuais e pessoas descoladas que por madrugadas adentro se deliciavam ao som de boa música, poesia e conversas animadas.

Bene é um homem estranho. Um destes moradores de rua sujos e sem identidade, logo ganhou fama na rua onde dorme, pelo seu jeito esquisito e eloquente de ser. Com traços de esquizofrenia, anda pelas ruas vivendo de esmolas e sempre as voltas com as assistentes sociais que querem lhe dar um lar, uma “vida de homem de bem”. Ao contrário do que pensam, não gosta de bebidas alcoólicas, na verdade, adora aproveitar o anonimato e a fama de louco para dizer o que quer, da maneira que quer. Nem sempre foi assim. Benedito, trabalhava com carteira assinada, tinha carnês, de prestações a perder de vista, de carro e electrodomésticos. Casou-se jovem, com a menina bonita e carinhosa do bairro, para assumir uma gravidez precoce e assim viu o sonho de ser professor de literatura ir por água abaixo. Um dia, depois de um dia péssimo de trabalho, chegou em casa e paralisou perante a descabelada e obesa mulher, que a sua menina tinha se transformado, ela berrava mil reclamações enquanto devorava espalhada no sofá, sujo da sala, um prato de macarrão instantâneo. A paralisia se transformou em uma crise nervosa irreversível que o fez sumir dali e nunca voltar. Bene era do mundo.

Janete era engraçada. Tinha uma maneira peculiar de sempre ir diretamente ao assunto, mesmo sendo, este assunto, desagradável e indigesto, louca por detalhes, arrematava com um comentário decisivo baseado no mundo próprio que vivia. Não era bonita, nem feia. Viveu sua infância correndo e andando de bicicleta em uma cidade do interior, quando mudou para cidade grande, achou tudo tão diferente, mas, logo se adaptou. Trabalhou em tantas coisas que não saberia mais quantificar e gastava grande parte do que ganhava, sendo vendedora de uma loja de ferramentas para construção, em roupas inspiradas na moda das telenovelas. Adorava dançar e saia com amigas para boates e bares da cidade. Só havia namorado uma vez e desde então, tinha relacionamentos rápidos, sempre com mil histórias engraçadas, amantes problemáticos e namoradinhos apaixonados. Aprendeu desde cedo que se fosse educada e cordeira, teria bons lucros! Andava as voltas com um patrão que a assediava e humilhava, mas, tinha os três cartões de créditos cheios de prestações para pagar, por isto, suportava tudo, sendo calculista, sempre de olho na próxima e prometida grande oportunidade que a vida iria lhe trazer.

Maria Luisa saiu apressada do seu terapeuta, no elevador seu celular tocou e era sua amiga chorando e reclamando da traição do marido, ao atravessar a rua............

Janete, pegou a condução para voltar ao trabalho depois de ir ao centro bancário pagar parte das suas contas, pestanejou contra o cobrador grosseiro e o motorista apressado. Sentou no primeiro banco logo a frente e antes mesmo de se acomodar foi arremessada contra o vidro do ônibus depois de uma freada brusca, tentativa frustrada de.......

Bene, comia na praça um resto de mamita oferecida pelo dono do bar da esquina, olhava para suas mãos sujas distraído ao mastigar, voltou a realidade pelo barulho de um ônibus em alta velocidade tentando frear, seu coração disparou, preferiu não olhar e escutou gritos….

Os respingões de sangue no vidro do ônibus assustaram Janete. Sentiu o sangue escorrendo pelo rosto e por segundos, achou que aquele vermelho fosse do seu corpo. Ao levantar, assustada e maldizendo o motorista imprudente, olhou para o asfalto a frente, e soltou um grito de desespero ao ver a poça de sangue em que Maria Luiza estava mergulhada.

Sol a pino em dezembro feito de verão escaldante, uma hora da tarde, o trânsito que já marcara seu compasso com buzinadas e palavrões pelo atraso na cidade que não pode parar. Bene, viu estendida sob o asfalto a moça com o rosto desfeito em carne em pedaços, o sangue, que escorria pela cabeça de um cérebro amolecido a mostra, escoava borbulhando no asfalto quente. Seus últimos suspiros foram sôfregos e afogados em substâncias corporais retorcidas. A multidão de curiosos observava em transe caustico a cena pavorosa. Janete, já recomposta, em pensamentos agradecia estar bem e viva, já Bene, abriu caminho na multidão e ajoelhado perto de Maria Luisa observou a pele alva e macia das pernas a mostra e leu devagar os escritos do seu sapato: ma-no-lo b-l-a-h-n-i-k, olhou para o céu e como em profecia, começou a gritar com toda força da sua voz em disparada: DO PÓ VIEMOS, AO PÓ VOLTAREMOS (SSSSSSSSSSSSS)!

segunda-feira, 16 de março de 2009

poema de dentro






Doses cavalares de você
Beijos desconcertantes da sua boca
Língua passeando livremente na minha pele
Mãos percorrendo desesperadamente meu corpo
Dentes prensados delicadamente no meu pescoço
Sugando minha saudade
Meu desejo enlouquecedor de você

Doses homeopáticas de amor
Pelo resto da minha vida
Amor, as mãos dadas
Aos sorrisos bobos de contentamento
Olhares delicados e intensos
Tão de perto
Que olhar de perto é beijo

E nunca mais
e… em hipótese nenhuma
Ser mais longe que isto
Ser tão longe do que é hoje
Ser mais longe que um palmo do meu amor
Uma polegada da sua paixão

Que mais perto, seja dentro
Dentro, eu da sua boca
E você, sempre pulsando
Incontido em seu desejo
Dentro
Mais dentro,
Ainda mais insamente dentro
Ainda por muito mais tempo
Porque amor como este
É para ser vivido assim,
Para o lado de dentro
Nunca mais longe que isto….

domingo, 8 de março de 2009

para todas as mulheres que conheço e admiro!












Sim, se você trocasse
a boêmia pela classe;
A classe agiria em você
e Ihe daria um norte.
E a classe por acaso
mata a sede com xarope?
MaiacovisK



Pela noite escura adentro, deixou-se cair pela rua sentando aos risos com sua nova turma de amigos encontrada no bar do centro da cidade, onde se concentrava uma boémia pseudo-intelectual metida a querer sugar dos bares os subterfúgios da vida sem responsabilidades. Ali, rindo de uma maneira exaltada e quase teatral, em entrega total a sorte do destino, consumia o final do seu dia, que tinha começado de uma maneira tão insuportável, quanto a dor de se manter sóbria. Esqueceu-se em um canto por momentos e novamente a imagem dele em sua diferença veio a mente e em seus pensamentos embriagados sua face foi transformada um grande personagem de filme de terror, com dentes monstruosos salivando, olhos enormes vermelhos e dedo em riste a apontando entre gargalhadas.

Então ali, naquele canto encolheu-se na sua posição fetal, e chorou. Escorreu em lágrimas, sentindo o hálito dele acima da sua cabeça repetindo as mesmas palavras ditas horas atrás, mas com rigor trágico e aterrador que a fazia tremer inteira. Mergulhada em um grande buraco negro, com a força das frases dilatadas, veio a mente momentos que fizeram dele o grande homem que tinha passado pela sua vida, os melhores encontros de sua mísera existência, via estes momentos congelados como em fotografias voando em um grande roda moinho do tempo.
Consumida

Sugada
Abriu seus olhos e absorveu o vento trazendo em uma voz distante seu nome a colocando numa postura, ereta e firme, na realidade. A sua frente a face enternecida de sua amiga e seu convite urgente de seguir adianta, a fez sair em um pulo do torpor. Saiu a rua, acompanhada, pelas ruas estreitas de pedras, cantalorando canções castelhanas aos berros até chegar um lugar obscuro que soltava do seu interior sons de risos e gaita, dentro, uma voz rouca de um estranho barbudo começou os acordes de Hoochie Coochie Man.
Sentiu-se invadida por aquela música que sempre a moveu a bons e livres sentimentos, então, tirou a o casaco que a envolvia, muniu-se de um cigarro e uma taça de vinho e em meio a desconhecidos e ausentes, dançou. Cantou. Sorria livre, rodopiando quase que em transe envolvida a frescas ideias de futuro. Próximas férias a ser planejadas em um lugar que sozinha sempre sonhou; noites livres para passar acordada rindo com amigos ou sozinha lendo, divagando no seu diário e ouvindo música; pensar no futuro com sonhos próprios; colocar suas roupas, sem precisar ser a mulher de classe que nela ele sempre enxergou; se apaixonar uma, dois, três vezes sem comprometimento ou expectativas; tirar o ar blasé do rosto de mulher resignada; não avisar por onde anda, por onde quer ir, por onde pode leva-lo; ter sentimentos livres, sem se preocupar em amansar suas dúvidas, seus arrombos de expectativas; não enquadrar nele sua fome de viver; jogar fora a balança de defeitos e qualidades… tanta coisa…. Tantas possíveis mudanças…

Seus planos foram interrompidos por palavras como linda e nome, ditas por um homem insistente de aparência forte que estava ao seu lado. Olhou impávida para ele, incomodada, viu o ambiente cheio. Queria espaço, queria estar só. Não queria dizer o nome, não queria se sentir linda ou feia, necessária ou descartável, desejada ou amada, espirituosa ou introvertida. Queria estar só.

Sozinha e imóvel por minutos, parou seus olhos em um relógio antigo na parede e o tudo silenciado no seu interior, fez com que ouvisse o tic-tac chamativo, hora de ir para casa. Vestiu-se de ebriedade e passou de ombros ao homem alto e saiu.

Ao longe, ouvia-se na madrugada silenciosa a força dos seus passos, as pedras escorregadias da rua receberam seus novos caminhos e ela, caminhava, não pensava na chegada ou no horizonte distante, simplesmente andava…

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Olhando!

Você me traz para vida em uma teia de sentimentos intrínsecos de raízes profundas e verosímeis


Em um emaranhado de tramas de desejos confessáveis ao pé-do-ouvido



Coloco-me ao seu alcance
Até que dispare em minha direção seu olhar amante



Que me acolhe, aconchega, recebe:
-Eu te amo,
-Eu sei.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

procurando van Gogh!




Como a força de camadas em pensamentos perigosos, pela janela da casa aberta, viam-se a palavras “rubras, góticas, alto de corpo e de copos” do poema de Hilda Hist, sendo lidas extasiadamente.

Deitada ao chão, espalhada em um tapete branco felpudo, com uma displicência envolvente, passara aquela madrugada, com uma ansiedade que a obrigava a sentir a noite toda o vento gélido vindo daquela angustiante janela aberta.

A luz fosca refletia o vermelho que vinha da taça, estrategicamente colocada ao alcance de suas mãos. Naquela velha vitrola que ganhara meses atrás da sua amiga de infância, o ruído denunciava um vinil, que deixava escapar no ar a voz feminina nos acordes do jazz e a embriagava em um clima de segredo e encanto.

Era um cenário perfeito e seus gestos teatrais deixavam claro o prazer em se sentir tão melancólica e sozinha aquela noite, com estes pensamentos que ela olha para imensidão do mundo da sua janela e diz com um olhar dissimulado:

“Não consegui encaixar Van Gogh na descrição!”,
segue um destes sorrisinhos marotos e com um dos seus olhares pretensiosos, fecha a janela vagarosamente.

O que se vê, lá de dentro, é uma total escuridão e Ella Fitzgerald cantando ao último volume.

sábado, 31 de janeiro de 2009



entre EU e SEU desejo
MEU desejo de amor


uma la cu na enorme
de não amares

domingo, 25 de janeiro de 2009

A manhã já chegara ao fim quando decidiu finalmente seguir o caminho. Já não suportava olhar a mala sobre a cama e lembrar da insistência dos seus pensamentos duvidosos. Passou a noite entre pesadelos, delirando e revivendo o passado e o futuro em visões esparsas.

Parecia não ter forças para seguir em frente, mas, também seu corpo já não suportava a forma estática pelo qual tinha vivido por anos. Foi muito tempo adiando decisões, sentimentos e acumulando por dias a fio culpa e mágoa por situações vividas de maneira abafada.

Chegara ao fim.

Sua mala a espreitava. Havia no seu interior poucas coisas. Músicas, poesias, roupas de estimação, as máscaras que cultivara e sobre tudo, seus cadernos rabiscados e amarelados onde, por vários momentos, dividiu momentos solitários e hermeticamente introspectivos.
Levantou bruscamente e o chão sumiu dos seus pés, mãos frias, o quarto que começou a girar e o forte gosto de náusea veio a boca e viu cores e formas se transformarem. Estava dentro de um caleidoscópio. Suas mãos começaram a desmanchar em suor, já não sentia o pulsar do sangue percorrendo seu corpo e o gosto amargo se tornara insuportável. E um peso enorme sobre os ombros obrigou-a a sentar novamente. Fechou os olhos e um barulho ensurdecedor de grades e chaves fez com que uma nova realidade surgisse. Abriu os olhos e o que viu foram grades nas janelas e enormes cadeados colocados a porta.

Em um passe de mágica todos os sintomas desapareceram e um suspiro profundo fez com que relaxasse, aliviada. Olhou para sua cama, macia e aconchegante. Repetiu mentalmente para todas células do seu corpo: não havia maneira de sair daquele lugar. E repetiu novamente para todos os seus pensamentos e sentimentos: não havia maneira de sair daquele lugar. E repetiu agora baixinho para assimilar bem: não havia maneira de sair daquele lugar. E finalmente gritou com toda sua voz para os 4 cantos do quarto, da casa, do mundo: não havia maneira de sair daquele lugar.