quinta-feira, 15 de outubro de 2009

escapando...



Na passagem do mar sobre a areia, a marca da água o fez esquecer do embaralhado confuso de sentimentos difíceis. Ficou olhando para ondas que o mar havia imprimido na areia e se sentiu livre das pequenas complicações cotidianas que o fizeram por dias querer estar sozinho.


Foi assim: assistia televisão no quarto branco e olhou para o quadro com motivo branco e azul e achou que era hora de sentir o vento do mar. Colocou na mochila 2 bermudas, 3 camisetas, chinelos, escova de dente, desodorante, carteira e foi! Assim. Sem rumo. Andou pela cidade, pensou na praia mais perto enquanto tomava um café forte em um bar de esquina e foi! Andou a pé, de carro, de avião, de ônibus, sem pressa, com pressa, perdeu noção da vida, das horas, dos lugares, dos sentimentos, das pessoas…


No primeiro dia, ao ver o mar, ficou imóvel por segundos, ou minutos, ou horas, ou dias, não conseguiria quantificar! Sentiu o cheiro, a brisa, o barulho de longe e de perto o mar se apresentou escancarado. Não se lembrou dos tantos momentos passados de intimidade com aquela imensidão de água que achava que tinha controle. Não. A melancolia da felicidade do passado, não se manifestou. Era como estivesse sendo apresentado ao mar pela primeira vez…e na mesma posição, talvez tendo as estrelas ou o sol sobre a cabeça dormiu e acordou. A areia, o sal, a sede, nada o incomodou!


Estava ali, onde queria estar por meses, distante de tudo, de todos e dele mesmo. Era completamente a ausência de tudo, era nada e o mar.


E sentiu saudades. ….

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

amanha.

Serei as coisas mais ordinárias e humanas
Também as excepcionais
Tudo depende da hora
E de certa inclinação feérica
Rica em mim qual um inseto.
Carlos Drummond de Andrade.



Enquanto guardava meu colar de pérolas em minha caixa de jóias, lembrava entre sorrisos o choro falso que tive que encenar quando meus queridos colegas de trabalho me presentearam com uma festa surpresa de aniversário, parecia um verdadeiro inferno quando cantavam em coro: “SURPRESA”. Queria ter criado asas e voar para bem distante e como encomenda especial soltar um destes “cocos passariniamos” que vem do céu dos olhos dos desavisados.
É , até que capricharam nos presentinhos sem personalidade e o pico da noite foi ter que abrir o presente da minha estagiária patética e sem brilho, um destes pijamas de flanela que só de olhar me queima de calor.
Sorri, “obrigada, flor, é lindo”!
Suportei ainda as piadas ridículas do “esperto” do departamento de finanças e a troca de olhares libidinosas entre a garota do setor de compras casada e de caráter duvidoso e o garoto de lindos olhos do almoxarifado.
Sei que ele gostam de mim.
Sempre me pouso de cordial, amável e inofensiva com todos e eles, tendo confiança, destilam seus venenos e seus segredos nos meus ouvidos, um contra o outro, é quase um esporte ouvir, aconselhar e manipular. Em dias mais animados e que tenho tempo faço intrigas entre eles e me delicio em ver as briguinhas patéticas e choros dos fracos escondidos nos cantos. No exercício da manipulação, me surpreendo pessoas ainda assim tão medíocres e de massa, possam vibrar tão negativamente no mundo.
Bem, é hora para pensamentos filosóficos ou “freudexplicatianos”. Deitada em minha banheira de espuma, saboriando um porto encorpado e escutando RAy Charles todos meus pensamentos voltam para o dia de amanhã. Encontrarei minha querida amiga que a anos não vejo, mesmo distantes, sempre dividimos nossas vidas, nossos problemas e medos. Sempre explodo em amizade e carinho a ela.
E que pulo no coração ao lembrar que ele estará também no encontro, disse-me agora pouco que tem uma surpresa e que a surpresa não é de pegar ou guardar. Estou ansiosa, ele sempre me surpreende, me embala de amor e aqui, deitada, pensando em tanto amor que recebo só penso em ser e dar o que existe de melhor para o dia de amanhã, amanhã sim, a comemoração do meu aniversário.
Como o força do amargo do vinho é bom!