segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Lola e Brigitta: "summertime"!

Lola, sentada a frente do Mediterrâneo sentia suas lembranças vagas como fantasmas em uma noite escura. O trompete de “Summertime” em relances, trazia a realidade. A fragilidade e decadência do momento se manifestavam na dificuldade de levar aos lábios a piteira antiga que havia recebido de presente de Bigitta.


Era um embrulho lindo com laço brilhante vermelho.Os olhos da amiga flamejavam de expectativa, até que a piteira foi levada a boca em gestos lentos de extremo encantamento pelo presente proibido. Fumaram o primeiro cigarro dourado nas escadarias prepotentes da escola de dança quatrocentona e se sentiram mulheres verdadeiras quando no momento de se encontrar os gestos e caras perfeitas para usar o presente, notaram olhares desinibidos do cobiçado professor de literatura. Lola não ruborizou, não desviou os olhos, não se sentiu diminuída por ser desejada por um olhar tão escandaloso, não. Foi naquele segundo invadida pela força e poder que fez, por uma vida inteira, se sentir uma mulher completa.


Respirou e a leve brisa trouxe a lembrança o cheiro dos cabelos de Brigitta, juntas corriam livres entre casas antigas da rua que moravam e conseguia escutar ao fundo os gritos da amiga. Venha! Venha!


There´s a nothin can harm you”, sua voz calma e compassada reforçou a de Armstrong e como em todos os momentos da sua vida, desde quando a porta se abriu com a imagem de Brigitta sorrindo, não sentiu medo. Ela estava por perto.

Apagou o cigarro. Deu o último gole no uísque e levantou-se. Não havia o que lamentar, não havia o que se arrepender.


Tudo foi dito.


Tudo foi vivido.


Tudo foi intensamente sentido.


Precisava prosseguir.



( Este texto faz parte de uma série de contos "Lola e Brigitta", sem sequência cronológica ou sentimental : http://impermeavela.blogspot.com/2009/08/lola-e-brigitta.html )

(Vídeo da música: SUMMERTIME, interpretação história e fenomenal de Ella Fitzgerald, Louis Armstrong e trompetes paralisantes. Ouvir a música e ler o texto ao mesmo tempo seria uma combinaçao "multimídia" perfeita)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

DESPEDIDA




O que a lagarta chama de fim do mundo, o homem chama de borboleta
Richard Bach


O mundo iria acabar.



Cerca de 24 horas e não existia o que fazer. Não existia mais o que pensar. O mundo ia parar de girar e os pés voltariam a se prender no chão. O coração voltaria a bater no ritmo cotidiano e pelas narinas apenas um fio de ar vazio e com cheiro de resto de vida decretaria a morte.


Entraram e todas as janelas foram fechadas com grossas cortinas e na estranha escuridão do lugar apenas uma fresta vazia anunciava como uma ampulheta de luz, o restante do tempo de vida.

Tiraram todas as roupas e ali, deixaram que o ultimo volume de um blues com a voz de Clapton se despedisse deles com um aceno triste e de até breve.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Não vou me alongar.




o horizonte todo a sua frente



e ela comendo, faminta, amendoim em um saco de supermercado.








domingo, 3 de janeiro de 2010

crônica sobre o perdão.

Peço desculpas pela imensa calma que fiquei quando dizia verdades e mentiras enroscadas em emaranhados de frases estranhas e sem significado. A mim não importava nada, a não ser o abraço apertado e o beijo demorado que fez me tirar os pés e a mente do chão. A espera, o encontro, a conversa que tivemos ou não tivemos, que foi real ou imaginária, que precisava ter ou que tive.

Peço desculpas, por não saber e nem me importar em o que é realidade, ficção ou o desejo de se viver de um outro mundo que não o nosso.

Pode ser doloroso demais a nós o mundo encantador que não temos, mas, mesmo assim, te peço desculpas, pelo o que o mau, a nós em comum, me transformou: fria, distante e sem sentimentos dramáticos.

Se me perdoar, volte.

Talvez poderemos comemorar o abraço não dado, a dia que passou sem vermos, o beijo….