terça-feira, 29 de junho de 2010

... sem palavras...

quando ele a jogou a parede
cobriu de beijos sua boca antes mesmo de tentar decifrar os olhares misteriosos
decidiu que não haveria mais sutileza
nem meia palavra
muito menos sentimentos jogados no ar
seria tudo claro
traduzido
visceral

apaixonado.

(vídeo: cena incrivel do filme "Vestígios do dia")

terça-feira, 22 de junho de 2010

Carol e Ro, nossos amigos.

Carolina virou para o lado, colocou o copo vazio na mesa e dormiu. Rodrigo ficou ali, com os olhos sem conseguir fechar. A força da frieza das palavras dela ainda ecoava em seus ouvidos.

Rodrigo sabia que Carolina não era lá estas mulheres de intensidade e sua superficialidade pela vida e sentimentos o enchiam de tédio e indignação. Mas, era inegável que a previsibilidade da namorada o deixava em uma situação confortável. Depois, Carolina, tinha um corpo até que bonito e era sempre tão mansa… Desde que conheceu Carolina, sempre teve os sentimentinhos, de garota medíocre, voltados para ele. Tá, ele concordava que não era nada difícil manter uma mulher como Carolina sob controle, mas, Rodrigo não se sentia homem o suficiente para ter na vida, uma mulher a mais que aquela garota que dormia na mesma cama que ele, só que a quilómetros do seu corpo. Foi assim que tudo se encaminhou para o namoro longo que ele não conseguia, e nem sabia se queria, se libertar.

Ficou ali, no escuro. Amargo e acuado, ruminando a frieza que Carolina o vinha tratando nos últimos dias. Ela sempre foi morna, dizia “eu te adoro”, como dizia “vou na esquina”, o desejava com a força de um rato mas, desdém…? Não poderia suportar isto de uma mulher tão pífia como Carolina. Mas, não tinha mais saco de fazer algo a mais por Carolina, ela tinha que se satisfazer por tê-lo como namorado bem posicionado e um futuro marido para acompanha-la nos eventos de família! E ela ainda o desdenhava…?

Levantou da cama inconformado, se achando o maior merda do mundo, andou de um lado para o outro do lado, lançando olhares fulminantes a Carolina que dormia, com a boca aberta, profundamente. Sentado na poltrona posicionada a frente da namorada, discou o número da moça que trabalhava na loja da frente ao seu trabalho. Foi uma conversa de uns vinte minutos, com sua voz baixa e provocativa, destilou insinuações a moça do outro lado da linha que correspondia as suas palavras com malícia e interesse. Suas risadinhas e elogios estratégicos, combinados a olhares furiosos a moça que dormia, ressoavam no quarto como atitude sádica e diabólica e Rodrigo um vulto forte e indomável.

Antes de voltar para cama, escovou seus dentes olhando para o espelho que refletia a imagem de um homem poderoso. Foi assim que dormiu tranquilamente e nem se deu conta dos quilómetros que o afastavam de Carolina, ali, na mesma cama que ele.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

autobiografia

vivo fora do contexto
do texto


na subliminaridade
do meu tempo.





(imagem: Edward Hopper, Woman)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Relato de feitiços contra a morte


"A morte não fede. Só os vivos fedem, só os agonizantes fedem, só os podres fedem"
Charles Bukowski



A primeira vez que a morte veio, eu ainda era imortal. Não a temia, não tinha conhecimento da sua existência, do seu poder e da sua habilidade no comando do meu declínio.


E ELA começou a espreitar e, com olhares autoritários, observar meu dia-a-dia sentada, tomando uísque, no alto de uma montanha. Eu juro que vi seu vulto ao longe, mas, nunca imaginei de quem se tratava...

Foi assim que começou. A morte, já ao meu lado, soprava os meus tranquilizantes ao vento e o ar quente da sua respiraçao me fazia contorcer de dor. Seu cheiro me fez sorver em líquidos verdes. Mas, os orientais chegaram em tempo e com um enorme cano nojento nas minhas vísceras, tal como dizia as escrituras, sugaram-me para longe dela.

Agora era mortal e de longe, no alto as montanhas do horizonte, via seu endereço.

Em um dia de inverno a morte voltou. Primeiro perambulou no meu quintal, decidindo se me levaria em 3 meses, em 2 anos…. Foi nesta época que pendurei minhas importâncias no varal tentando afastá-la. Depois, tudo que me era de valor junto com uma réstia de alho. E ELA entrou porta adentro voluptuosa e dentro da minha casa, ao meu lado, sentia seu ressonar e todos seus ruídos horripilantes que me sugaram o viço dos olhos, a alegria cotidiana e a paz interior e em alguns momentos, me arrepiavam os pelos da nuca, por dias. Não haveria negociação.


A solução foi drástica. O feitiço era único. Desta vez, o tomei o chá feito com todos meus cabelos a meia-noite por 9 meses e por 16 vezes morri um pouco de cada vez e por 16 vezes renasci ainda mais forte.

E assim como estava escrito no livro, ela não se apoderou do meu corpo e nem da minha alma. E o processo tão famoso nestes meios mortais, de AFASTAMENTO DE MORTE AFOITA, foi realizado com sucesso!

Já não temo a morte. Faço como o velho Buk me ensinou: "levo ela no meu bolso esquerdo, às vezes, tiro-a do bolso e falo com ela".

O velho Buk é um velho safado, mas sabe das coisas... Deu certo, ela só quer me atenção nos seus dias mais sombrios e solitários, a morte é minha amiga do lado esquerdo do peito!


(Velho Buk: leia-se Charles Bukowski e o conselho(levo ela no meu bolso esquerdo, às vezes, tiro-a do bolso e falo com ela , é um fragmento de O Capitão Saiu para o Almoço e os Marinheiros Tomaram Conta do Navio )
(Imagem: Frida Kahlo , the two fridas)