sábado, 17 de dezembro de 2011

LIBERDADE.


duas
histórias

amor
duas histórias

dentro
de uma
outra

a outra
dentro
da uma

e ela só queria um cavalo branco
vento no rosto
correndo
livre.



(gravura: Fragile, Hannah Hoes Van Buren, Six of Diamonds (1999), Tina Mion)

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

... entre um e outro compasso... o silêncio




João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.


Carlos Drummond de Andrade


Haveria alguma explicação para o que João queria que Maria explicasse, estava ali na ponta da sua língua, na faísca do seu olhar e o arrepio do seu toque. João queria era escutar outra coisa. Pedia a explicação e olhava nos olhos de Maria, que não desviava o olhar, mas, desviava a explicação.

Maria não podia dizer, senão diria o que João queria ouvir e Maria que queria tanto dizer... Não podia, ainda não podia e segurava por entre a língua e as cordas vocais as palavras de uma forma covarde. Sem dizer, com palavras açoitadas na sua boca, se torturava sadicamente do amanhecer ao anoitece.

João ficava confuso tal qual Maria quando ela queria ouvir e ele não pensava em dizer, não era vingança, era o rodopio da quadrilha a deixá-los longe, perto, juntos...

Maria ainda iria dizer, aquelas palavras eternas e João ainda iria querer ouvir. Vejo a cena: vão se dar as mãos, estará anoitecendo e será somente João e Maria, nada de Tereza ou Joaquim ou Lili....ou J. Pinto Fernandes!

Somente João e Maria.





( minha homenagem ao primeiro poeta e poema que conheci e que me fizeram entender que não existe maneira mais livre de expressar e entender meus sentimentos e do mundo senão pela poesia, parabéns pelos seus anos Carlos Drummond de Andrade e a sua benção!)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Cathy visita os morros uivantes.



um arrepio tépido
ventos uivantes

frio
vazio
silêncio

abram as portas!
é o grande momento.


(Imagem : Edward Hopper )

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

elvis e eu... (rascunho)




Talmo terminou seus trabalhos no computador do escritório da sua casa. Não era tarde, definitivamente, não era tarde. Ao afastar da mesa viu a luz do quarto dos filhos já apagada. Alongou os braços e pernas cansados pela tensão do dia e de todos seus pequenos problemas cotidianos que lhe consumiam. Ouviu o choro do menino mais novo e quase foi ao seu encontro, mas, antes disto, viu a sombra do corpo da Norma a sair apressadamente. Ele poderia ter trazido o garoto até o seu colo e afagá-lo, talvez o levar até o sofá cama pronto para dormir e chamar Norma para deitarem e, juntos, falar sobre as estrelas e as constelações. Talvez poderia encaixar seus pés nos pés dela e sem que ela se desse conta terminariam enlaçados com o garoto encaixado no meio de suas pernas. O menino adormeceria e os dois talvez dormiriam assim, se estivessem em acordo e apaziguados, mas, se Norma continuasse a passar seus pés macios sobre sua perna, saberia então que a poderia beijar, a tomar pelos braços. Saberia... Mas, o garoto mais velho dormiria da cama com Norma no quarto do casal e, Talmo não queria discussões e antes ...Norma apressadamente colocou o menino para dormir. Era tarde e os garotos tinham hora para levantar, hora para ficar acordados. Existiam horas e tempos a ser cumpridos. Esta era Norma obcecada por números, por padrões, por coeficientes aplicáveis. Porra, Norma, isto me entedia. Pensou. E o silencio se fez naquela casa, até que ela ligasse o chuveiro. Água escorrendo. E Talmo lá, olhando a tela do computador a olhar para o quase vazio de suas esperanças, até que passou por entre seus olhos um vídeo e ao observar as imagens sensuais da gritaria histérica das mulheres lindas por um único homem, lembrou de Norma e de sua paixão quase infantil por Elvis. Na verdade, tentou se lembrar se alguma vez desde conheceu Norma e seu delírio pelo defunto, sentiu ciúmes desta atração de Norma por um homem, ta, desconhecido e morto, mas, que poderia significar a atração dela por homens obviamente sedutores. Baita pensamento louco este, riu. A tempo não sentia ciúmes de Norma com seu jeito inflexível a regras de bom comportamento e era certo que isto o deixava em uma posição sentimental de conforto. Conforto, agora, que incomodava. Queria sentir ciúmes de Norma. Urgentemente. Queria urgentemente que algum desejo sexual movesse aquela sua mulher, mesmo que por outro homem. Norma, faça que eu sinta ciúmes de você!

O silêncio voltou. Ouviu o barulho do notebook ligando no quarto do casal e apertou rápido o botão ENVIAR da mensagem.

Talmo sentiu o coração disparar de excitação enquanto ouvia do outro lado do corredor do apartamento em silêncio do barulho de teclas. Silêncio. Teclas. Silêncio. E... guitarra distorcida. Gritinhos histéricos e You know I can be found...

A música em sombra ecoando e Talmo com olhos fechados imaginando os olhos de Norma vidrados no branco e preto dos trejeitos de Elvis a correr do sucesso e poder das garotas.Replay. E escutou a voz de Norma a acompanhar a letra I don't want no other Love, uau, ela continua desafinada como a anos atrás, mas, cantava com a mesma voz manhosa, se deliciando com os sonhos de amor a la Elvis.

Então, a voz foi se aproximando e Talmo abriu os olhos para ver no corredor a sombra de Norma se aproximando como uma gata se arrastando pelos cantos, parou na porta do escritório descalça, de regata colada ao corpo, que deixava a mostra parte da barriga e a lingerie com rendas nas laterais. Simples, como seu cheiro por todo lado. Colocou a mão na cintura a balançar de leve o corpo no ritmo da música que vinha de longe e abafada.

Norma conhecia as excitações de Talmo e depois de ver em seus olhos a excitação pelo momento, torceu seus lábios para o canto vagarosamente. Talmo se lembrou do mesmo movimento feito pela mulher do vídeo, viu desejo nos olhos de Norma, não se lembrou do ciúmes necessários, só a beijou e a beijou novamente e novamente e queria a beijar sempre , sempre e para sempre...


terça-feira, 28 de junho de 2011

O FRAGMENTO DA MENINA KAMIKAZE DAS 7 VIDAS



"....And the world spins madly on..."





Despretensiosamente entre um e outro carinho...

- Você irá esquecer dos meus beijos?

- Sim!

- Então, irá esquecer de mim?

- Sim!!!!!

Voz embargada quase em lágrimas...

- Que triste!

- Uma vez perguntaram a um escravo fugitivo sobre seus pais e ele disse que haviam sido assassinados. Que triste, responderam e ele prontamente retrucou, não é triste, é a vida!

Sentiu o começar do despedaçar em seus sentidos. Livrou abruptamente dos seus braços e dos seus beijos, manteve o olhar longe das suas vistas enquanto sentia a explosão repartindo seu corpo em mil pedaços.

Espalhada pelo chão, destruída, sentia a dor dilacerante do ato suicida e tentando racionalmente se reconstruir só pensava insistentemente nas poucas vidas que ainda lhe restara...

Não era triste, eram apenas poucas as 7 vidas intensas que se dera ao luxo de gastar como uma Kamikaze.





segunda-feira, 13 de junho de 2011

PARÊNTESES....

Para aguçar o intelecto e a inspiração...

Simpósio Internacional
sobre
Cultura e Meio Ambiente

Estudos Literários e Culturais
Ecologia Humana e Urbanismo:
aproximações possíveis na construção de um novo mundo

Palestrantes:


Prof. Dr. Juan Pedro Ruiz Sanz
Universidad Autónoma de Madrid
Doutor em Ciências (Ecologia Humana)
Título da palestra:
Literatura y ecología: un jardín de senderos que se bifurcan


Prof. Dr. Marciano Lopes e Silva
Universidade Estadual de Maringá
Graduado em Oceanologia (Área Biológica) e Letras
Doutor em Letras (Literatura e Sociedade)
Título da palestra:
Mãe, madrasta, fêmea e fera selvagens: a natureza segundo românticos e realistas

Me. Fábio Henrique Soares Angeoletto
Graduado em Ciências Biológicas e Mestre em Arquitetura e Urbanismo
Doutorando em Ecologia Humana na Universidad Autónoma de Madrid
Título da palestra:
As vacas sagradas do ambientalismo


Carga Horária: 03 horas

Data: 20/06/2011 (Segunda-feira)

Horário: 19h30 às 22h30

Local: UEM - Auditório Ney Marques

Público-Alvo:

Profissionais e estudantes das áreas de Letras, Ciências Biológicas, Ciências

Sociais, Educação, Arquitetura e Urbanismo e comunidade em geral.

INSCRIÇÕES:

Período de inscrições: de 13/06 a 20/06/2011
(até o preenchimento das vagas)

Local: UEM - Secretaria do PLE - Bloco G34 / sala 01

Horário: das 08h00 às 11h30 e das 13h30 às 17h30

Taxa de inscrição: R$ 15,00 (quinze) reais

Informações: (44) 3261-4830 / E-mail: sec-ple@uem.br

VAGAS LIMITADAS

SERÃO EMITIDOS CERTIFICADOS DE PARTICIPAÇÃO.

Justificativa:

Vivemos um momento histórico em que as fronteiras entre as ciências são cada vez mais flexíveis na medida em que o diálogo multi e interdisciplinar torna-se mais intenso. Exemplos desta nova conjuntura no campo dos estudos literários são os estudos culturais que aproximam a literatura de ciências como a sociologia, a antropologia e a filosofia. Nesta mesma perspectiva se encontram os recentes estudos de ecocrítica, situados numa interface que também envolve as áreas citadas. Um simpósio envolvendo pesquisadores das áreas de ciências biológicas (mais apropriadamente em ecologia humana), urbanismo e estudos literários, poderá contribuir para o alargamento de horizontes críticos nas áreas envolvidas. Este diálogo possibilita, por um lado, planejar o gerenciamento ambiental levando em consideração os valores culturais envolvidos na relação entre o homem e o meio ambiente e, por outro, possibilita aos estudos culturais considerarem com maior profundidade crítica a relação com o espaço e o meio ambiente na construção das identidades no mundo pós-moderno.

terça-feira, 7 de junho de 2011

CHORO




- por que às vezes você chora nestas horas "?"

- porque às vezes o amor se torna insuportavelmente físico, e, sublima, me emociono.

Então, ele deitou seu corpo sobre o dela e ela quase não conseguiu respirar com o peso de tanto amor. Ele a procurava com olhares até se certificar do fim das lágrimas. Ela aceitou os estalidos de beijos em seu pescoço. Eles, calados, sentiram suas respirações se acalmarem e se esvaziarem da lascívia perturbadora de tantos dias.

Dormiram assim, um sobre o outro. Um pesando com seu amor sobre o outro.



(VIDEO - da maravilhosa Billie Holiday que me emociona sempre.)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

DOCE E AMARGA VIDA


Aqui, tudo que poderia desejar. A sombra e a água fresca da árvore em copa e do lago límpido me envolvem em tal sentimento, ocioso e calmo, que até poderia ser mundano.

Ai, ai...

Descanso.

O bicho que voa perto dos meus ouvidos, faz zummmmmmmmmmmm, bato com as mãos. Erro e me estapeio no rosto. Que susto. Doeu.

Parece que vai chover. Recolho o que é meu. Coloco tudo dentro de um saco de dormir e pronto.

Ai, ai...

Delícia de chuva.

Ouço os pingos da chuva mansa na copa da árvore e sempre tem um pássaro que também se alegra com o bainho fora de hora e canta todo feliz.

Ai, ai...

Sono gostoso.

Acordo sobressaltado. Um sonho estranho sobre encontros, desencontros, ruas vazias e meus pés descobertos sentiram um frio danado com o vento. Que incomodo! Não consigo mais dormir. Tudo a volta parece ter som. Zunidos e ferrões a me cutucar.

Grito.

Um grito estridente no vácuo da noite que chia. Preciso sair urgente, coloco tudo nas costas e enfio meus pés na lama da chuva mansa. Ando. Ando.

Ai, ai...

Canseira.

Sento-me novamente agora, o céu descoberto, mostra a lua cheia a iluminar a noite. Os barulhos se acalmam e o novo lugar parece sossegado. Deito e volto a dormir. Achei que iria precisar sair, mas, foi só um pesadelo.

Ai, ai...

Sonho.




(IMAGEM: Noite Estrelada - Vicent Van Gogh)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O DESAFIO



Samson came to my bed
Told me that my hair was red
Told me I was beautiful and
Came into my bed
Oh I cut his hair myself one night
A pair of dull scissors in the yellow light
And he told me that I'd done alright
And kissed me till the morning light
the morning light
And kissed me till the morning light




Respirou fundo novamente antes de aceitar aquele convite insistente que ele havia feito, entregar-se aquela nova e sempre espreitada sensação, não era para ela o melhor para uma manhã de quarta-feira, mas, se sentiu desafiada. Há dias vinha se consumindo em uma rotina categoricamente fria,de sentimentos regrados e racionalmente controlados.Já não sabia onde vinha a força para manter-se com sintomas de medos e decaídas distantes. Mesmo antes de tudo acontecer já não sabia ser capaz de viver sem a transgressão de sentimentos, de regras e atos que somente serviam para formar uma imagem firme de quem era perante as pessoas que convivia na sua vila. Enquanto olhava a distância, a profundidade, lembrou-se da velha que morava da última rua a direita da vila, a maneira como foi encontrada quatro dias depois da sua morte: na cadeira , dura, imóvel e morta. Sorriu constrita. Sentiu pena da velhinha, sempre tão amável com todos, nunca indelicada.E aquele seu sorriso mediano? Os lábios que invariavelmente faziam o mesmo desenho no rosto, uma linha reta com as duas covinhas profundas, metade dos dentes anteriores aparecendo do sempre mesmo sorriso para sempre a mesma delicadeza e impavidez. Enquanto ele de costas arrumava os equipamentos, ela, ainda com a velhinha morta por quatro dias em casa, na cabeça, lembrou-se do dia em que a sorveteira do centro da vila queimou em brasas. Todos correndo, histeria, agua para baixo, chamas para cima e enquanto ela estava absorta na maravilha da ajuda comunitária, viu a velhinha ao longe com aquele mesmo sorriso mediano no rosto, nem a mais, nem a menos. Achou aqueles pensamentos impróprios para o momento e querendo se desfazer de qualquer resquício fúnebre, fixou os olhos nos braços que puxavam as cordas para cima. A sensação de força que ele passava lhe dava uma segurança inquestionável, algo primitivo e distante dos tempos modernos, mas, se achava engraçada imaginando ele a protegendo contra um grande animal feroz ou a salvando de uma torre cheia de fogo. Sorriu sozinha. Ele subitamente virou-se e agora sim viu a força dos seus braços segurando um monte de roldanas, cordas, coletes e não sabia mais o que e para quê tudo aquilo! O suor escorria pelos seus ombros enormes e nos olhos de menino vivaz e peralta via a vibração, a necessidade intensa de vida que a fazia querer a urgência do momento. Pronta? Foi o que ouviu da sua boca, esboçando um sorriso maroto. Sentiu o frio na barriga e já não sabia se era a iminência do desafio a seguir ou a excitação que ele despertava. Sorriu desconfiada. Pronta, foi o que respondeu. Levantou-se e do alto viu tudo até quase o infinito, os tons de verde a ocre, a natureza cintilando a sua frente com uma brisa desnuda e suave. A imensa altura e abaixo as águas ávidas e passionais que a esperavam. Agarrou-se e se acomodou na segurança que ele a ofereceu e ali aconchegada com o coração ao pulos, o sangue pulsando sobre a maestria da adrenalina saltou livre. Ela e ele. Segundos avassaladores. Sorria louca. O vento. O nada. E pronto estava sentindo em sua pele quente a água deliciosa e acolhedora, mergulhou ainda agarrada a ele e naquele instante era tudo o que sentia: ele e a vencedora capacidade se superar, de arriscar, de transgredir. Submergiu aos gritos, aos prantos, se olharam demoradamente e se beijaram em entrega .

Sorriram, mergulharam juntos e continuaram urgentes e intensos pelo momento que parecia ser o sem fim do infinito.





(cronica publicada em 2007, e está aqui novamente, por insistencia de regina spektor.)

terça-feira, 19 de abril de 2011

CONFISSÕES PARA UMA SEMANA SANTA.



É tudo que eu posso
Lhe adiantar
O que é um beijo
Se eu posso ter o teu olhar?
Cai na dança, cai
Vem prá roda
Da Malemolência...



E se isto não é a personificação do pecado, não existiria pecado abaixo das nossas cinturas

E se fosse pecado além da linha imaginaria que faz nossos olha res inconvenientes

Eu, juro, em nome de alguém, melhor nem dizer o nome,

(é pecado, sem piedade)

Iria para este inferno capcioso quente luxurioso devasso

que são seus braços em abraços.

Ah, iria...