quarta-feira, 26 de outubro de 2011

... entre um e outro compasso... o silêncio




João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.


Carlos Drummond de Andrade


Haveria alguma explicação para o que João queria que Maria explicasse, estava ali na ponta da sua língua, na faísca do seu olhar e o arrepio do seu toque. João queria era escutar outra coisa. Pedia a explicação e olhava nos olhos de Maria, que não desviava o olhar, mas, desviava a explicação.

Maria não podia dizer, senão diria o que João queria ouvir e Maria que queria tanto dizer... Não podia, ainda não podia e segurava por entre a língua e as cordas vocais as palavras de uma forma covarde. Sem dizer, com palavras açoitadas na sua boca, se torturava sadicamente do amanhecer ao anoitece.

João ficava confuso tal qual Maria quando ela queria ouvir e ele não pensava em dizer, não era vingança, era o rodopio da quadrilha a deixá-los longe, perto, juntos...

Maria ainda iria dizer, aquelas palavras eternas e João ainda iria querer ouvir. Vejo a cena: vão se dar as mãos, estará anoitecendo e será somente João e Maria, nada de Tereza ou Joaquim ou Lili....ou J. Pinto Fernandes!

Somente João e Maria.





( minha homenagem ao primeiro poeta e poema que conheci e que me fizeram entender que não existe maneira mais livre de expressar e entender meus sentimentos e do mundo senão pela poesia, parabéns pelos seus anos Carlos Drummond de Andrade e a sua benção!)