terça-feira, 13 de novembro de 2012

LAGARTA LISTRADA!


O rapaz prosseguiu com muita doçura:
-Antônia, você parece uma lagarta listrada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
-Antônia, você é engraçada! Você parece louca. 

                                                                                                 Manuel Bandeira.



- Eu sou louca?
- Não! Eu gosto de você assim!
- Assim como? Louca...?!
- Não, louca!




(imagem:Royal Pleasure (2012), Corine Dalle Ore)

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

CUIDADO COM OS SONHOS DE CRIANÇA!


Eu tinha acabado de ser apresentado a ela quando cometi a impertinência feliz de perguntar como havia feito para implantar-se de tal modo naquele mundo tão distante e diferente de seus penhascos de ventos do Quindío, e ela me respondeu de chofre:

— Eu me alugo para sonhar.

Na realidade, era seu único ofício.

Gabriel Garcia Marquez.





Eu lembro, eu era pequena, não muito pequena, mas, pequena e dançava rodopiando feito uma louca, uma louca pequena  que  quanto mais rodava e rodava e girava e cantava mais parecia que iria voar, voar, voar, para o sonho  mais distante,  mais longe,  mais bonito,  mais colorido, mais possível.
É possível?

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

"Ilusionada"




Entre seu sangue e a pele

Como  meias de seda
Como a neblina de agostos frios
Como a fina linha do horizonte
Como o limiar entre viver e sobreviver

Uma tênue e fina e delicada camada
De ilusão.






( Imagem: gravura de Edgar Chahine, Jane Avril,1907. Este ilustrador maravilhoso que estou encantada e que me emocionou com figuras expostas no MASP)

quinta-feira, 12 de julho de 2012

A REPLICANTE.



“….depois passou pelo aeroporto lotado de anominos indo e vindo com pressa das milhares de preocupações pelo mundo em guerra  silenciosa. Todos com seus pensamentos construídos , com suas lembranças inventadas e próprias nervoses mascaradas. 
Desta vez  não olhou para cada rosto e se perguntou como era fazer parte daquilo tudo. Somente caminhou apressada com o preto colado ao corpo e aos olhos borrados das lágrimas que não existiam. Comum, como outra qualquer,  absorvida pelo transito da vida
Sem o próximo beijo. Sem mais o próximo beijo se atirou no imenso precípicio da realidade forjada dos passantes. Até que um falha a fez repetir baixo e já sem forças te amo te amo te amo te amo te amo te amo te amo te am te a te t…………………………..”

Todos esses momentos se perderão no tempo como lágrimas na chuva.
Hora de morrer”









(inspirado no filme Blade Runner, nas realidades da atormentada replicante Pris e na incrível trilha sonora de Vangelis.)

quarta-feira, 27 de junho de 2012

quando era criança.


Ponho-me a escrever teu nome

com letras de macarrão.
No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
e debruçados na mesa todos contemplam
esse romântico trabalho.

Desgraçadamente falta uma letra,
uma letra somente
para acabar teu nome!

- Está sonhando? Olhe que a sopa esfria!

Eu estava sonhando...
E há em todas as consciências um cartaz amarelo:
"Neste país é proibido sonhar." 

Carlos Drummond de Andrade




Revistinhas espalhadas pelo chão “J-u-l-i-a”, Sidney Sheldon em letras garrafais na estante entre coisas guardadas e poesias lidas, pela janela um céu lindo e longe, algo singelo como um balão, mas, rápido como um rabo de cometa, a riscar o céu de pluma branca e fumaça negra levando para longe, longe das chances de qualquer ilusão.

Sentou-se na cama confortável e fitou a parede branca de pedra e tijolos e cimento. Talvez colocaria um lindo móbile feito de pássaros que simulam algum vôo. Talvez...uma gravura de klint ou Hopper....Talvez....uma grande televisão a passar o cotidiano dos outros mundos... Talvez...

Tinha planos, muitos planos.

Fechou a janela para o vento frio do inverno e deitou na cama olhando para cima: o teto branco...sem nuvens, sem estrelas, sem lua. Branco. Pedra.Tijolos. Cimento.

Fecharia os olhos sem planos, somente sonharia...

quinta-feira, 21 de junho de 2012

só mais um ano....só mais um de blues!



Mulheres: gostava das cores de suas roupas; do jeito delas andarem; da crueldade de certas caras. Vez por outra, via um rosto de beleza quase pura, total e completamente feminina. Elas levavam vantagem sobre a gente: planejavam melhor as coisas, eram mais organizadas. Enquanto os homens viam futebol, tomavam cerveja ou jogavam boliche, elas, as mulheres, pensavam na gente, concentradas, estudiosas, decididas: a nos aceitar, a nos descartar, a nos trocar, a nos matar ou simplesmente a nos abandonar. No fim das contas, pouco importava; seja lá o que decidissem, a gente acabava mesmo na solidão e na loucura.

Charles Bukowski




Tremia em todos os ossos enquanto a língua invadiu a boca retirando do coração um suspiro intenso. Nunca haviam lhe beijado desta maneira e uma síncope quase o fez limpar o chão com seu terno novo. Maldita mulher! Maldita língua a atravessar a secura de sua boca com aquela saliva quente e melada. Maldição de vida! Tudo que queria era enlaçar sua cintura e dizer : “Let me take care of you,  babe girl”?! Não conseguiu. O  veneno tomou conta do seu corpo e desabou em abraços fortes. Maldito veneno o da paixão a cegar, a corroer, a palpitar os poros da pele e a embasar os sentimentos. Maldita língua a sugar o que de melhor e pior poderia sentir. Maldita mulher, “let....”, “take...”. Maldita boca, língua e saliva que treme, que gagueja, que espalha, que dói, que deseja, que prende... que “my babe girl...”

My babe girl...

Myyyyyyy  babe girl......  

My dear babe girl.....

Bendita seja sua paixão!

quarta-feira, 16 de maio de 2012

ESFIGMONANÔMETRO


Em um gesto simples e banal, colocou as mãos dentro do peito e pegou seu coração nas mãos.Olhava para o vermelho sangue das veias e para as fibras musculares que pulsavam em total descompasso. E ficou sentado ali. Tudo calmo. E ele a observar o quanto o coração pode fazer apaixonados definharem como loucos esfolados. O coração pulava em suas mãos, mas, ele segurava forte. Tudo estava no controle.
O sangue escorria...



(imagem: Toulouse-Lautrec)

sábado, 10 de março de 2012

VIDA



"Sinto o absoluto dom de existir"



A fogueira estava no meio do quintal, algumas bancos dispostos ao lado e o moço começou a dedilhar no violão canções populares que não se ouvia nos lugares a muito tempo. Alguns dançaram sem compromisso perto do fogaréu, mas, o dia era quente de verão e todos ficaram ao longe, observando a fumaça, a luz do fogo, as brasas, o chamuscar do ar. Menos a menina pequena que saiu correndo no meio as pessoas e sentou muito próximo da fogueira, a mãe gritou de longe: “ cuidado com o fogo, menina”, a vó: “ criança que brinca com fogo, faz xixi na cama”, a vizinha: “vai se queimar e não diga que não avisamos”. Mas, ela continuou ali, paralisada, olhando para o fogo, até que algo chispou e uma chuva de pontos brilhantes caiu sobre ela. Tudo parou e ficou embaçado na sua visão e viu somente os muitos e maravilhosos pontos de luz que caiam sobre seu corpo. Garota, se lembrou das fadas e raios de varas de condão. Foram segundos e ela ria, encantada com a magia.

A noite acabou com a menina chorando por entre as pessoas, a mãe preocupada, o pai disse que tinha avisado, a vó rezava para Nossa Senhora e ela estava inteira, queimando e só esperneava porque queria voltar para a chuva de brilho em brasa mágica.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Aos leões e a poesia, me atirem!

Enquanto houver um louco, um poeta e um amante haverá sonho, amor e fantasia. E enquanto houver sonho, amor e fantasia, haverá esperança.
(Shakespeare)




Ela gostava da prosa, dos grandes romances. Suspirava. Sonhava com as histórias de amor :

"as letras iriam correr e no fim um “the end” enorme iria surgir. Uma música bonita de orquestra tocaria. E o beijo seria eterno, em uma prosa de amor"

Até que ela descobriu que preferia as poesias.

Queria poesia e engavetou a história, o romance, o conto, as fadas
Queria insistes e não a ideia completa
Queria poesia de dia, de tarde, de noite
Queria poesia aos 40, aos 50, aos 60
Queria Maiacovisk, Mr. Barros, Pessoa
Queria versos, estrofes, rimas sem fim
Queria licenças poéticas
Queria exclamações e não ponto finais
Oh!!!!!!!!!!!
Ah!!!!!!!!!!
Não!!!!!!!!
Sim!!!!!!!!